Lobito, finais dos anos 90… O Hip-Hop estava em febre nas ruas dessa cidade… A cultura negra expandia-se por todo país (Angola) e isso provocara o surgimento inevitável de vários MC´s dotados de um talento muito peculiar que os distingue dos MC’s doutras localidades. Assim, e com o intuito de desenvolver a cultura Hip-Hop em todo território nacional, foram surgindo várias associações de rappers ou famílias que se uniam para defender as mesmas crenças e os mesmos ideais como músicos e como cidadãos.

E foi assim que surgiu a primeira grande family de hip-hop do Lobito, a SUPREME SCHOOL. Na altura faziam parte desta família diversos MC’s e grupos do Lobito, dentre os quais destacamos, os Kay B., Prisão 17, Black Melody, Consciência Negra, Don Lalas, Mad Nigga, Don John, dentre muitos outros, todos do Lobito, provenientes das principais Zonas da Cidade e da Periferia. Na altura reuniam-se debaixo de um dos prédios da Zona Comercial do Lobito e o fulcro central daqueles encontros eram nada mais, nada menos que freestyles e pequenos debates. Mas, os problemas organizacionais e emocionais motivados pela falta de experiência de convivência como Irmandade daqueles rapazes causaram o desaparecimento da mesma family, em pouco menos de 1 ano.
A partir dai, o Hip-Hop no Lobito parecia estar a necessitar de mais união e incentivo por parte dos próprios rappers. Por isso, baseando-se nos ideais outrora declarados no seio da SUPREME SCHOOL, os jovens do Bairro da Caponte decidiram reactivar a family, mas desta vez a mesma seria voltada exclusivamente para os MC's da Caponte, pois na altura os mesmos acreditavam que antes de partir para uma união generalizada (Lobito), devia-se começar por conhecerem-se a eles mesmos, entender melhor a cultura formando uma unidade particular (Caponte). Foi assim que surgiu a HIP-HOP SCHOOL (pode-se notar a influência até no nome) e na altura integravam nessa family vários MC's como os Kay B., Prisão 17, Xá Negro, Lírico, DiBusta, Puff P., BC, Vanilla Ice e outros…
A faixa etária predominante entre os integrantes dessa nova family variava dos 16 aos 28 anos. Havia já Graffwriters e B-Boys na Crew e tudo parecia estar certo na altura, pois até havia se conseguido gravar um som que mais tarde se tornou um Hino nas Ruas do Lobito, onde participavam quase todos elementos da family. A partir dessa música ficaram conhecidos MC’s como, o Mac D. o Murmur-Yó (dos Kay B.), Lírico e FPY (D.E.P.) pela sua performance no som e assim ganharam mais credibilidade nas ruas do LBT.
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Panorâmica do Bairro da Caponte, Lobito |
A faixa etária predominante entre os integrantes dessa nova family variava dos 16 aos 28 anos. Havia já Graffwriters e B-Boys na Crew e tudo parecia estar certo na altura, pois até havia se conseguido gravar um som que mais tarde se tornou um Hino nas Ruas do Lobito, onde participavam quase todos elementos da family. A partir dessa música ficaram conhecidos MC’s como, o Mac D. o Murmur-Yó (dos Kay B.), Lírico e FPY (D.E.P.) pela sua performance no som e assim ganharam mais credibilidade nas ruas do LBT.
Mais tarde, surgiram contradições entre os dirigentes co-fundadores da HIP-HOP SCHOOL, que discordavam em muitas ideias causando assim a divisão da family em duas alas: A Ala de Chico Inglês e a Ala de Milay. Como era de se esperar, tal atitude não gerou frutos acabando por sucumbir a HIP-HOP SCHOOL, depois de aproximadamente 2 anos.
(Abaixo, um flyer de um Show realizado por Chico Inglês em 2002. Destacam-se na foto alguns elementos da F.E. como: Prisão 17, Mc Liberdade, DiBusta, Lunguinha, hoje, jogador de futebol profissional, dentre outros.)
E mais uma vez, os HIP-HOPpers do Lobito agiam independentemente gravando suas músicas e actuando em alguns espectáculos organizados individualmente e não se importando um com os outros… a decadência estava cada vez mais notável por causa de tais atitudes. Tudo isto acontecia por volta dos finais do ano de 2002.
Foi então que aqueles mesmos MC's que integravam a HIP-HOP SCHOOL, voltaram a reunir e foram teimosos insistindo na ideia de criar uma associação, uma family. Dessa vez eles queriam decidir os seus verdadeiros rumos sem a participação de Milay, do Chico Inglês e sem a participação de outros elementos que pudessem estragar o projecto. Queriam algo que ficasse na história, para sempre… algo eterno! Dai a razão de escolherem o nome FAMILIA ETERNA como o nome dessa associação. Depois de várias semanas de reflexões e depois de aprovados alguns estatutos estabeleceram o dia 22 de Março de 2003, como o dia da fundação da F.E. (Família Eterna). Faziam parte da família, os Kay B., Gritos da Liberdade, os New Star, o MC Tijolo, Real Family (350 Volts, Big Salas…), Aliança Clandestina (XMCV, Alex…) etc. … e mais tarde, Nigga C., B.P e CJM (MC’s Dispersos).
No princípio, reuniam-se uma vez por semana, na Escola Nº 6, da Caponte, também conhecida como "Escola Deolinda Rodrigues" (Ver foto abaixo) para ensaios, freestyles, debates, palestras de diferentes temáticas tais como: Conceito de Cultura, Cultura Hip-Hop e o Seu Surgimento, Lideres Negros Revolucionários, etc.
Mais tarde passaram a debater mais sobre a necessidade de se conhecer os nossos direitos, as leis e os problemas sociais predominantes em Angola e do Mundo em geral de modos a poder achar um meio para poder intervir positivamente nos problemas da sociedade ajudando a solucioná-los. Assim, através da expressão musical-verbal da cultura Hip-Hop, o RAP, esses jovens lançavam mensagens espirituais, culturais e politicas como objectivo de “abrir os olhos” e alertar a sociedade que estava mergulhada no mar da ignorância quanto a esse aspecto. Reivindicavam por qualidade de vida aceitável e com mensagens construtivas educavam a sociedade. A F.E. passou então a ser um parceiro forte na luta contra a violência, na luta contra o SIDA e outros males, tendo já colaborado com o INAC, OMUNGA etc, em diversos shows de beneficência. Tais feitos, para além de atraírem as atenções das entidades mencionadas, atraíram também a atenção de entidades individuais, tais como Domingos Kinanga, que predispôs-se a patrocinar financeiramente todos os eventos da Família Eterna a partir daquela data.
Com o surgimento da produtora independente, UR-YÓ PRODUÇÕES, foi possível compilar as músicas de todos integrantes da F.E. e lançou-se uma colectânea denominada “Primeiro Degrau”, cuja obra foi lançada no dia da comemoração de 2º aniversário da F.E, isto em 2005. Organizou-se naquele dia um espectáculo onde estiveram presentes vários MC's convidados do Lobito, da qual foi feita uma recolha de donativos para as crianças de rua.
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Escola Nº 06 |
Mais tarde passaram a debater mais sobre a necessidade de se conhecer os nossos direitos, as leis e os problemas sociais predominantes em Angola e do Mundo em geral de modos a poder achar um meio para poder intervir positivamente nos problemas da sociedade ajudando a solucioná-los. Assim, através da expressão musical-verbal da cultura Hip-Hop, o RAP, esses jovens lançavam mensagens espirituais, culturais e politicas como objectivo de “abrir os olhos” e alertar a sociedade que estava mergulhada no mar da ignorância quanto a esse aspecto. Reivindicavam por qualidade de vida aceitável e com mensagens construtivas educavam a sociedade. A F.E. passou então a ser um parceiro forte na luta contra a violência, na luta contra o SIDA e outros males, tendo já colaborado com o INAC, OMUNGA etc, em diversos shows de beneficência. Tais feitos, para além de atraírem as atenções das entidades mencionadas, atraíram também a atenção de entidades individuais, tais como Domingos Kinanga, que predispôs-se a patrocinar financeiramente todos os eventos da Família Eterna a partir daquela data.
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Domingos Kinanga |
Depois deste show estava bem claro que a
Família Eterna viria a fazer muito mais pelo Rap local, deixando um testemunho acertado
para as gerações vindouras.
Ao longo do tempo as ocupações laborais, algumas
diferenças criativas e inclusive devido à migrações de alguns membros da família para
outros pontos do país e do mundo, causaram uma diminuição no número de efectivos
da Família Eterna. Tal facto motivou os seus integrantes a apostarem também em
carreiras à solo e assim, em 2011, Mac D. O Murmur-Yó lança a sua primeira mixtape
intitulada "Eu Tive Que Vir" e em 2013 Prisão 17 a.k.a O Iluminado lança a sua
mixtape intitulada "Passos Pra Luz", enquanto outros elementos na diáspora
desenvolviam também seus trabalhos noutras afiliações, tais como Narrador
Kanhanga no Brasil, com uma saga de mixtapes destacando a d’O Preto do Bairro. A esta altura já eram também
oficialmente integrantes da family o Lírico, MC Duas e o NT-Radical e juntos
foram actuando em vários palcos da cidade do Lobito e não só.
Em Março de 2013, em alusão ao 10º aniversário
da fundação da Família Eterna, os mesmos decidiram organizar, com um grande apoio do parceiro habitual Domingos Kinanga, um show para
saudar a data onde foram também cabeças de cartaz DJ Pelé e MCK. Temendo ser um
evento de carácter político pelo envolvimento do Rapper MCK, as autoridades
locais tudo fizeram para boicotar o show, chegando mesmo a proibir
explicitamente a realização do mesmo na voz do então Comandante da 1ª Esquadra da Polícia do Lobito.
Apesar das intimidações, o evento foi realizado em condições não tão esperadas e curiosamente só fortaleceu ainda mais a união entre aqueles músicos (Leia mais aqui). Naquele mesmo dia Under P. foi apresentado ao público como o mais novo integrante da Família Eterna levando os presentes ao delírio e 8 meses mais tarde lançava então a sua 1ª mixtape intitulada "Ocorrências do Tempo".
Devido ao reconhecimento
inegável dos trabalhos da F.E, o que se seguiram foram diversos convites para eventos
locais ou interprovinciais tais como as várias temporadas do Espaço Bahia das
quais foram convidados como grupo ou individualmente os seus integrantes, o show de MCK no Cine Atlântico, feiras de
Hip-Hop e outros eventos em Luanda, Huambo, Kwanza Sul e outras províncias. À par disso foram lançados diversos videoclipes oficiais; foram também realizadas a Tournée de Prisão 17 e Mac D. O Murmur-Yó (Lobito,
Catumbela, Benguela e Huambo); a Tournée de Under P e Steiss MC (Benguela,
Lobito, Catumbela, Bié, Luanda e Huambo); o Grande Show de Prisão 17 e Amigos; Under P. fez parte do projecto
colaborativo Visionários (Com Decente Motivação e Xavi MC) lançado em 2015; em 2016 foi lançado o 1º Volume de uma Antologia de músicas da F.E como grupo, foi lançado ainda o EP "Do Verbo à Coisa", projecto colaborativo de Under P com Grand F, para além de vários outros projectos que continuam sendo desenvolvidos.
Apesar das intimidações, o evento foi realizado em condições não tão esperadas e curiosamente só fortaleceu ainda mais a união entre aqueles músicos (Leia mais aqui). Naquele mesmo dia Under P. foi apresentado ao público como o mais novo integrante da Família Eterna levando os presentes ao delírio e 8 meses mais tarde lançava então a sua 1ª mixtape intitulada "Ocorrências do Tempo".
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Flyer do Grande Show FAMÍLIA ETERNA: 10 ANOS |
Hoje em dia a FAMÍLIA ETERNA é mais do que uma associação de Hip-Hoppers tal como fora definida outrora, praticamente os grupos e artistas integrantes fundiram-se. A F.E passou a fazer mais jus ao seu nome, hoje a Família Eterna é… uma FAMÍLIA!!!